quarta-feira, 31 de agosto de 2011

ILHAS DE BRUMA


O vento corre apressado vindo do Mar
Já não oiço as andorinhas nos rochedos
As ondas de Agosto são castelos de sal
Esta ilha é degredo de muitos medos

A ilha recebe as gotas do choro de um deus
As hortênsias adormeceram no barro
Um coração bate triste magoado
Um sentimento no peito amarro

Hoje tal como ontem perdi o olhar mar adentro
Senti um errante aroma vindo do norte
Senti que as nuvens corriam apressadas
Senti que a paixão tem que ser forte…

…No coração de quem sente, sentido
Trovas ficam esvoaçando no tempo
Um beijo sincero pára o relógio
O universo ilumina este momento

Pisei um tapete de folhas de fogo
De pés descalços segui sem rumo
Só parei no meio de nadas
Senti o ardor do Sol quando estava mesmo a prumo

Ah poeta de contida fúria
Marioneta de um deus irónico
Amarrado a cordel fino
Com ar de falso cómico

Descobri que a música é bater de coração de anjo
Que a noite aprisiona o dia em ironia
Que um golfinho é feliz quando se solta do mar
Que o Sol foge envergonhado ao fim do dia

Descobri…
Que a minha alma flutua à noite sobre o corpo
Que viajo sem fronteiras, sem limite
Que um barco carrega a saudade de porto em porto

Neste cais que de negra pedra
O nevoeiro brinca com a espuma
Adormeço no feitiço do vento norte
No verde tapete destas…Ilhas de Bruma…

terça-feira, 30 de agosto de 2011

AS VALQUÍRIAS


O espelho de água de um poço
Reflecte um contorcido sorriso de falsidade
Um melro-negro agita o agoiro
Uma boca solta a palavra nua da verdade

São tão más certas criaturas…
Dou por mim a simular uma curta peça
Para ver se o teu sentir tem maldade
Tua alma explodiu na vingança

És um castelo de cartas…
Um campo de negras areias movediças
Árvore sem fruto ou flor
O pecado vestido do mais puro desamor

Pensar que pensei ter pensado seres pura
Pensei na frieza das pedras de basalto
Sou uma ave que voa na verdade do pensamento
Sou alma que se queda bem lá do alto

Sabes lá tu quem serei…
É tão patético fazer adivinhações
É tão estupidamente estúpido
Navegar na num mar de contradições

Mares de fogo frio, grito derradeiro
Ondas gigantescas de lamento e pranto
Xaile negro que afugenta a saudade
Alma que acolhe a maldade em espanto

Que vida, que diadema de falso ouro
A chuva apareceu agreste
Há tanta coisa que enternece a lembrança
Deste poeta sem ter o que preste

Hoje não digo coisa com coisa
Eu, que adoro semear palavras e colher maravilhas
Até o título deste poema é uma desgraça
Vejam bem…As Valquírias…

domingo, 21 de agosto de 2011

SETIMA ONDA


Mil espelhos reflectem desenganos
As negras pedras carregam o sal azul
As nuvens acomodaram-se a uma lagoa
Que fica para os lados do sul

Um barco parado no cais de espera
Amarras soltas do frio ferro
Uma gaivota adormeceu sem penas
Uma criança chora no meio do aterro

Cheio de penas amarro a alma
Uma saudade arrocha meu peito
Sou um caçador de nuvens breves
Um romântico sem ponta de jeito

Um barco de papel perdido do norte
Roseira plantada num campo de pedras nuas
Uma casa perdida da sua cidade
Um labirinto feito de mil e muitas ruas

O fogo arde sobre o mar a poente
O céu ficou menstruado de espanto
Calaram-se por um instante as andorinhas do mar
Uma mulher tonta vomita o cobranto

Despi as minhas vestes impuras
Desenhei na areia um anjo tristonho
Era negro como o fogo adormecido
Tinha as asas frias e duras de um terrível sonho

Sonhei com o amor verdadeiro
Sonhei com uma árvore vestida de sol
Sonhei que eras a virtude, a perfeição
E encalhei meu barco num longínquo atol

Saltei do barco na procura de terra firme
Vi no horizonte uma tempestade medonha
Corri na procura de um abrigo feito de saudade
Acordei no passar…Da sétima Onda…

sábado, 13 de agosto de 2011

UMA PONTE PARA O ACASO


Sonhei com uma estrela do céu
Sonhei-a vivendo no meio do Mar
Sonhei com a verdade de uma palavra
Soletrei sete vezes a palavra amar

Neste sonho vi uma árvore triste
Pensei em sete coisas impossíveis de fazer
A primeira era voar com as nuvens
A ultima sobre as águas de um Lago correr

E vi pássaros de cores nunca vistas
Refulgentes lírios de ouro de lei
Apenas uma hortênsia me pareceu ali perdida
Vi palpitantes borboletas e o coração calei

Senti que eram de vento as minhas vestes
Senti-me o herói do sonho, um Paladino
Senti que sem amor o destino não se cumpre
Senti em meu peito um anseio sozinho

Sentei-me no meio de um mar de buganvílias
Ouvi uma oração a um deus desconhecido
Fechei os olhos para ouvir a minha alma murmurar
E senti todas as almas ausentes no estar comigo

Não eram de sol os raios que me aqueciam
Tinha três Luas este mundo bizarro mas belo
Tinha lagos feito de pedaços de nuvens
Tinha uma corrente de apenas um elo

E tinha uma pequena casa
Uma chaminé sorria bolas de sabão
Uma porta aberta de par em par
Tinha estendida em minha direcção uma mão

Duas mãos, dois braços, um abraço
Senti a vertigem do teu infinito amor sair do regaço
Acordei no meio deste mundo de nadas
Terei percorrido…Uma Ponte Para o Acaso…?

sábado, 6 de agosto de 2011

SÉTIMO CÉU


Pisei um tapete de pétalas de giesta
Percorri as entranhas de um adormecido vulcão
Esculpi na lava uma caixa rubra
Guardei dentro um sonho perdido de um coração

A Caixa de Pandora...
Um dia roubei um sortilégio feliz
Não tenho conta das rezas que senti
Não sei se a viagem da vida foi o que quis

Não sei...
Só sei que sabendo aprisionarei o saber
Só sei que o saber é arpão cortando a distância
Só sei que às vezes me quer o querer

Não sei...
Porque partem cedo certas almas
Artista, Rei de patético reino
Canteiro de agrestes mágoas

Vela sem vento, Navio à bolina
Mastro apontando a uma pálida estrela
Saudade presa aos brandais
Rumo perdido na loucura de uma bússola

Corpo dorido, alma que pede amor
Rosa breve perdida na bruma
Vaga de muitas no dormente das pedras
Sal que já foi alva espuma

E respiro mil odores presos ao nevoeiro
Ouço mil vozes, nenhuma chama por mim
Vejo sete viagens, sete horizontes
Amordacei a palavra fim

Calei os gritos da amargura
O sofrimento deixa-me tão aflito
Não sei se vais partir,se ficas
Preso à garganta tenho este infinito grito

Ah sorte que que és madrasta
Como é imenso e terno o sorriso de uma lagoa
Pedirei a Deus, aos deuses o impensável
Pedirei até que a voz me doa

Sou um bruxo que se esqueceu do sortilégio
Um mago de varinha de condão presa num véu
Fiz esta viagem da vida contigo perto e longe minha Irmã
Espera-nos num amanhã...Um Sétimo Céu...



POEMA DEDICADO À MINHA IRMÃ QUE LUTA PELA VIDA NUM HOSPITAL.