domingo, 30 de junho de 2013

VIDAS INDECISAS


Manhã de cinzenta neblina
O Sol adormeceu na noite
Este dia corre em agonia
Este desencanto, esta nostalgia

É tão triste combater o destino
É tão insensato amarrar o coração
É tão cruel atirar fora a ternura
É tão estupido viver na sombra da solidão

Pessoas…!
Apenas pessoas de cabeça perdida na dúvida
Tenho pena de muito poucas vezes gostar
Aflige-me o amor, sentir amar

Pessoas…!
Vestidas de infinita crueldade
Tenho um sentido, uma rua nesta vida
Tenho arroxada no peito uma saudade

Pessoas…!
Ingreme enseada de duras palavras
Orgulho sem fulgor cego, solitário
Ribeiro furioso correndo ao contrário

Poeta…!?
Não sejas tonto, pateta
As pessoas são isso, são assim
Algumas confundem o começo com o fim

Por isso é tão triste combater o destino
Tão triste voar sem rumo ou encontro
Deixar de sentir a força suave de cada maré
Ser árvore, morrer de pé

Mas sou feliz…!
Porque dentro de mim há uma razão abrasadora
Há uma inquestionável verdade nua e resplandecente
Há uma esperança viva, não quero que morra

E há tu, e tu, e tu e tu…nada!
Gaivotas, pedras, ilhas perdidas
E há um Mundo que criei para plantar verdades
E há tristeza tanta…Vidas Indecisas…

quinta-feira, 27 de junho de 2013

IMENSAMENTE


Hoje senti o odor de sonhos passados
Veio ao meu encontro uma melodia chorosa
Trago do amor um travo amargo sem saudade
Trago no peito uma inventada cidade

Senti a sombra de uma melodia de Chopin
Segui a rumagem das folhas de verão
Toquei em voluptuosas hortênsias azuis
Uma delas arroxou-me o coração

Sou terra com sede de sol e céu
Elevando as mãos ao destino
Sete degraus e eu parado no meio
Uma escarpa alta, o voo sem receio

Por onde andará o errante nevoeiro?
Uma ilha é feita de pedra e nostalgia
Sou apenas a espuma de uma solitária onda
Sal que se solta no ar e às vezes brilha

Por onde andas tu?
Melhor, por onde anda a tua confusa alma?
Onde mora a tua perdida razão?
Porque habitas este mar de solidão?

As primeiras amoras embaladas pela brisa
A calmaria, o chamamento de amor das cagarras
Uma andorinha do mar que se perdeu
Um coração solto de todas as amarras

Um sorriso franco e cativante
A luz que que desmorona os muros de lava
As uvas ainda são amargas em Junho
Uma mulher que não sabe se ama ou amava

Tão quietas as pedras, ouvem o Mar
Serenos sãos os olhos quando se ausenta a dor
Este lume que aquece um querer somente
Este homem que sente…imensamente…

domingo, 16 de junho de 2013

MAR DE TODAS AS EMOÇÕES


Hoje senti-me dono do céu
Ouvi nas folhas dos jarros o silêncio da ilha
Procurei a respiração de um Sol de verão
Tive um momento de fogo, uma boa má sensação

Ouvi os passos da água
O estrondoso cavalgar de ondas impacientes
Vieram ao meu encontro odores azedo e doce das maçãs
Um tremente som de sino rasgou-me as minhas esperanças vans

Talhei na passada um rosto
No tremor da tarde procuro o encontro com o nada
Não sei se regresso no encontro de uma saudade
Não sei ouvir na vida uma real verdade

Tão confuso está este poeta pateta
Hoje não és dono do céu ou coisa alguma
És apenas um demiurgo da puta da vida
Uma gota de sal na confusa espuma

Oiço na distância os risos de troça
Sou um negro cisne sem canto
Chego aqui com a terra nos dedos e tão pouco
Alguns chamam-me de mestre outros de louco

Que importa ser alguma coisa em árvore morta
Nas escarpas desta ilha deixo traços meus
Serei um pescador de sonhos ou ventos
Ou um sonhador dos mil pensamentos ateus

Um trovador das encantadas sombras
Um trapo que à noite tomba
Um a janela que se fecha em úmida agonia
Um raio de luz pálida, fugidia

Já não procuro à muito uma maçã escondida
Já não descubro o pão e mel no avental de minha Mãe
Cresci num nascimento mal parido e senti-me perdido
Fui herói nos sonhos e medo escondido

Ora vejam bem o que é um mau poema
Saído da pena de um homem morto pelas ilusões
Às vezes o poeta sem pecado peca
E solta uma lágrima neste…Mar de Todas as Emoções…

sexta-feira, 7 de junho de 2013

MENINA DO MAR


Se for corrompido meu corpo
Se morrer por não saber senão assim ser
Se a minha palavra deixar de voar
Se as mãos deste poeta não encontrarem um olhar

O eco das tuas palavras reverbera
O fato que abandonei na cadeira
Tinha o aroma de uma rosa breve
Uma amora madura, uma dor certeira

Este é o tempo das buganvílias
As últimas chuvas fecundaram as hortênsias
Há uma criatura encontrada na desordem das marés
Há uma orquídea de coral atirada ao convés

Deixei um murmúrio preso ao ramo de uma faia
Lancei sementes à água dormente
Deixei-te nos cabelos uma coroa
Deixei-te na alma um presente

As palavras desta terra foram sangue e vinho
Da respiração das pedras fez-se melodia
Insondáveis esplendores habitam teu coração
O fascínio do mar preso a uma inquieta mão

Na errância dos pesares
Encontrei a espera de uma casa
Naufraguei nos escolhos de um destino
Há sempre um ir, um caminho

Há sempre cânticos na madrugada
Guardei lágrimas que secaram em lenços antigos
Aconcheguei uma réstia de alegria no abraço
Lancei um avião de papel ao espaço

Voei nele sem rumo ou distância
Há tantas feridas abertas por sarar
Há um areal com penas das gaivotas
E pegadas de uma…Menina do Mar…

quarta-feira, 5 de junho de 2013

MANHÃ AZUL


Percorro os caminhos que me levam os passos
Fecho os olhos para ver melhor a paixão
Habito um Mundo de tormenta e dor
Não sou, nunca serei ilusão

Hoje escrevo para ti apenas
Com uma pena de tinta azul
Parei na vida por um instante
E um Anjo sorriu-me vindo do sul

No desencontro de mil vidas
Encontrei uma de flor singela
Um abraço que recolhe a ternura
Encontrei uma ilha de formosura

Quantos caminhos na procura do rumo
Quanta dúvida nesta minha alma habita
Um pássaro falou-me de ti
Descobri que ainda ardem sentimentos e sorri

…E escrevo só para ti
Quero ler o que dizem as tuas palavras
Quero descobrir o esplêndido das suas cores
Quero fechar este livro de folhas negras e gastas

Quero embriagar-me de sol
Beber a magia do luar de agosto
Voar nas asas de uma cagarra
Poisar na esperança ao sol-posto

Sei, sempre soube o meu rumo
Sempre saberei para onde ir
Sempre soube que não sou deste Mundo
Ficar, viver, voar, abraçar, lançar âncoras ao partir

E escrevo só para ti…
Para que saibas que o Sol brilha mais a Sul
Parei no tempo, abracei um Anjo…
No despontar desta …Manhã azul…

segunda-feira, 3 de junho de 2013

PIANO


Pensei saltar por cima da vida
Atirar o corpo no vazio de um penhasco
Mas o Sol apareceu radioso
Um anjo que conheço deu-me a mão radioso

Pensei nas pessoas
Como mudam de máscara a cada passo
Pensei em Deus e no Diabo
E confundi a bondade em confuso estado

Percorri anos de labuta e dor
Pintei tanto azul, tanta flor
Na minha casa ainda floresce a paixão
Em minha alma ainda arde o amor

Na minha casa não há mentira
Plantei a verdade e reguei com ternura
Já cá não floresce raiva e ódio
Apenas uma criança de alma pura

Neste peito incandescente
A lava ardente aprisionou uma lágrima
Às vezes choro mil penas
Sou um homem a caminhar na vida apenas

Uma ilha…!
Onde moram todas as culpas do Mundo
Um barco sem vela ou bussola
Um oceano onde guardo o meu mais profundo

Um orgulho sem preconceito
Pedra sobre pedra, morada com aroma de pão
Quanta pedra me atiraram
Retribuo com a bondade em aberta mão

Tudo isto me ocorreu esta manhã
Às vezes fico assim, confuso estranho
Porque o meu silêncio foi quebrado
Pelas notas de um…Piano…