quinta-feira, 29 de agosto de 2013

O PAGADOR DE PROMESSAS


Este novelo de fio negro
Este xaile de uma vista só e negra
Este barco de negreiros, esta aventura
Esta arroxada alma acreditar na ternura

Esta chuva de verão, esta sedenta terra
Numa casa do sul vi vultos do Mar
Pintei sombras, luz, uma infinita claridade
Pintei ventos dolentes, pintei a saudade

Uma exaltação solta nas frinchas de uma espera
Absorvi a transparência da música
Invadem-me a lembrança mil primaveras
Afasto do pensamento repetidas quimeras

Os meus olhos já não colhem ódios
Já não adormeço nas madrugadas da melancolia
Já não me lembro da idade de um homem amar uma mulher
Sinto ainda o odor do orvalho num fruto qualquer

A esmagadora pureza das maçãs
Frutos mordidos por uma Lua prazenteira
O cheiro a Sol e sal vindo de entre as pedras
A respiração da Terra, absolvição derradeira

O caminhante, caminheiro…
Cavaleiro andante, quixotesco semblante
Uma espada de papel, escudo de lata
Um cavalinho de barro a que chamei rocinante

Uma porta antiga aberta de par em par
Acordei no silêncio os trincos da memória
Às vezes fico assim calado ouvindo os dias
Às vezes penso nas cores de uma contada história

Às vezes…
Penso que “Meu Deus” em mim professas
Às vezes louco escriba, pintor de lamentos
Ou talvez, pobre…Pagador de Promessas…