domingo, 8 de dezembro de 2013

IM0RTAL



É bom que se saiba
Não tenho um nó na garganta
Tenho o sabor da verdade no corpo todo
Tenho na mão as cores todas do Mundo

É bom que se saiba
Que há quem envergonhe as minhas canções
Quem me apontou punhais
Quem se afogou em contradições

Deitei-me dentro de mim
Sem vontade de recuperar o tempo, impossível
Tenho o silêncio preso ao céu-da-boca
Não se pode vomitar a palavra no vazio indiscritível

Às vezes invento coisas no meu coração amedrontado
Então o meu espirito alucinado cala-me
O meu corpo é terra que vejo passar por baixo do céu
É semente coberta por rasgado véu

Não precisam os desesperados
De subir as colinas rubras da paixão
À minha volta a luz nunca é suficiente
Tenho uma caixinha onde guardo a derradeira ilusão

Esta alma persistente de alegria
Como sorrio às vezes quando conto as aves felizes
Quando aceno ao desprender dos anjos magníficos
Ao soltar dos sonhos de despretensiosos petizes


É tão difícil percorrer estes dias insulares
Nunca temi repartir a mesa, o sabor do pão
Esta água girando sempre à volta da ilha
Vagas medonhas, nevoeiro, solidão

Nestas negras pedras dormem os séculos
O interior destas casas cheira a cal
A saudade das mãos cansadas do segurar meus filhos
Esta alma que não dorme nunca…Imortal…

domingo, 1 de dezembro de 2013

O CHAPELEIRO LOUCO DE ALICE


Caem gotas do celeste, choram os deuses
Apetece-me subir por aí em ondas de sussurros
Não voam anjos quando chove na ilha
Debaixo do pó de arroz nem sempre a maravilha

Tenho o sonho de uma cagarra por um voo feliz
Há uma liberdade contada estampada no meu rosto
Decidi faltar ao encontro dos desencantados
Fosse porque fosse vivi o amar até ao sol-posto

Onde se mede a beleza de um poema?
Ainda me arde à alma certas palavras
Na voraz caminhada por incertos dias
Apenas quero esquecer as mágoas

Perguntem aos mestres a razão
Porque têm tectos as casas?
Porque nos aquece a promessa do amor?
Porque perdi para esta vida as minhas asas?

Louco poeta…
Membro honorário do clube dos poetas mortos
Caído nas garras do vento
Rei da prima palavra por um momento

Fazedor de magias esquecidas
Não discuto porque Deus me fez assim
Podia ser apenas o despertar de uma sombra cativa
Sou apenas água de beleza altiva

E vejo os pássaros trajados de mil cores
Um milhafre zangado de cartola
Uma gaivota sem vontade de voltar ao mar
Um mendigo que nega esmola…

…Que toca um tambor com vigor
Que faz coisas belas e uma ou outra tolice
Abri hoje uma caixinha de música
E saiu de dentro o…Chapeleiro Louco de Alice…