quinta-feira, 24 de julho de 2014

ERAS ASSIM



O inquietante de uma planície sem verde
Um velho que estende a mão e coxeia
Na sombra vive a maldade e a contradição
Uma fresta que rasga os olhos ao cego do coração

Não haverá instante teu que me viole o pensamento
O espaço provável onde habitam as gaivotas
Será o Mar ou ardência da pedra?
Será a tua alma um cais vazio de espera?!

Não se esgota em meus lábios a poesia infinita
Tampouco mares azuis, ventos imensos, mares estranhos
Já ouvi muita voz calada de branda fala
Já seduzi o tempo e sonhei sonhos tamanhos

Deixai-me construir a grandeza neste mundo de pobreza
Deixai-me construir castelos nas sombras indecifráveis
Deixai-me rebentar com corredores esquecidos, ter opinião
Deixai-me voar em paz nestes anos de solidão

Mas falemos da/e pobreza
Na entrega dos sentidos fui imenso “foste pobre”
Na generosidade da alma fui grande, imparável
No amar fui pleno e tratado como miserável...

...Enriqueci!
Tal como os pássaros suspirei de penas
Na opacidade dos vossos olhos, apenas sou
Na claridade alma que um Deus confiou

Serenos são os dias da minha espera
Já não descubro nesta ilha a pureza do sentimento
Nunca desistirei de dar cor às minhas obras
Fugirei no longe do pacto das cobras

Fiquemos pois no lugar onde ainda bate um coração
Contemplemos paixões transparentes
Será que para lá do horizonte há apenas silêncio?
Será que a tua pobre razão distorcida mata o que sentes?

Será?
Que todas as histórias têm um infeliz fim
Conheço uma feliz que retratei com todo o meu virtuosismo
Olhei a obra e pensei...ERAS ASSIM...


sexta-feira, 18 de julho de 2014

A PROCISSÃO DOS LOUCOS



Nos ladrilhos da minha cidade
Não ficaram marcas dos teus pés
Apenas um Sol que teimosamente arde
Apenas uma porta fechada para a saudade

Na minha rua há um cão triste e feliz
Casas desabitadas e outras com aroma de pão
Na minha rua não há muros, nem fronteiras
Gente má, mesquinha, sem maneiras

Há um Homem convencido que é avião
Um caminhante que não toca no chão
Uma bruxa sem varinha de condão
E uma gorda desdentada que só come pão

E há festa sempre que é verão
Um simplório dono da opinião
Uma carro parado por não ter travão
Um vazo de sardinheiras de cor açafrão

Um candeeiro que morreu num apagão
Uma virgem que a um beijo diz não
Um safado armado em lampião
E um Pai que diz ao filho “Grande Rapagão”

Um sonhador sem sonhos que pensa como serão
Uma pedra sem sapato nem tacão
Uma mulher que geme por tudo e por nada sem razão
Um bêbado que chora para dentro de um garrafão

Já chega de rimas acabadas em “ão”
E também de falar desta desinteressante rua
Não concordam que o poeta hoje está pior da tola?!
Bem, sempre é melhor que pintar uma alma falsa e nua

A minha...
Pintei-ma de uma só cor
Apaguei todos os traços do falso amor
Porque de certeza alguém está a pensar ao ler isto: “Olhem este estupor”

Ah...Ah...Ah...
Muito se ri uma manada de flausinas
Ah...Sabem o que são Flausinas?!
São o cruzamento de batatas e meninas

Eu não digo!?
Isto é que é uma desgraça para aqui
Já havia destrambelhados e não poucos
Cá está mais um nesta...Procissão de Loucos...

terça-feira, 15 de julho de 2014

O SOM DO AMOR



Um prodígio nunca é aceite pela mesquinhez
Um ser diferente é bicho escorraçado
Um Homem bondoso é árvore de chacota
Um Poeta é sempre criança que segura o Mundo

Nasci numa manhã de gotas de chuva luzindo
Numa terra crepitante e cinzenta
Semeados certos homens tornam estéril a terra
Às vezes eclode uma mente brilhante que esteve em espera

Meu Deus...
A noite que passou trouxe-me amargos presentes
Quanta dor flagelou este infeliz corpo
Só, senti, rezei, pedi paz, pedi misericórdia, adormeci

Nesta voz apagada do meu corpo
Este vagabundo que bebe a vida
Neste silêncio súbito sem bruma
Este guerreiro vestido de espuma

Porque de vento se vestem algumas pessoas
Empunhando pedras de arremesso
Para eles não haverá Sol para o terror da solidão
Nesta minha bondade perdoo, estendo a mão

O que me fizeram...!?
Há pessoas infelizes que rirão ao entrar em si
Loucura, mentira, incompreensão, falsidade
Talvez gostassem de saber que morri

Não morrerá nunca a forma como vos amei
Reverberá no tempo o imenso que vos tocou
Não se apagará mais a doce verdade das minhas palavras
Não guardei rancores, às vezes fico tristemente zangado de mágoas

Sou assim, verdadeiro, sem ardis, sem punhais na manga
Quanto inventaram, quanto zombaram, tanta indignidade
Porque será que os seres de alma pequena são assim?
Porque terei acolhido alguns na minha inventada cidade?

E declaro que amei incondicionalmente quem não me amou
Que fui fiel à minha palavra e compromisso
Que mais não quis do que ter um abraço e um sorriso de quando em vez
Que não vos quero mal, tu, tu e tu que sejas feliz

Como fica amarga a poesia num corpo dorido
Como fere a navalha, soa estridente o tambor
Vou reter a bondade, o perdão
E inventar...O Som do Amor...

sexta-feira, 11 de julho de 2014

ENIGMA


A sombra aprisiona um lamento
Quantos heróis vejo em refrega tonta
A noite sempre se aproximando
Toda a gente sabe e esquece, pró mal, sempre pronta

Às vezes anseio o silêncio como um doce poema
Quanta escassez haverá em certas vidas
Procuro todas as manhãs uma perdida ilha
Já fugiu a Lua, já tremi, já vi almas perdidas

Saberás, que há muito mais porque morrer
Que o amor é uma planta sem cor
Para que floresça, vingue e cresça
Terá que germinar, ser e pareça

Saberás que as errâncias presas à alma
Que essa tua falsa chama
Essa serpenteada forma de no ontem sem amanhã
É veneno, é loucura, é mordida de maçã

Pois...
Agora lembrei-me de Eva
E não era alemã a nua senhora, creio
Há sempre uma traição e um homem no meio

Qual nada, rapaz
Falar destas tretas?! Isso não se faz
As mulheres são todas castas e puras (...)
Lágrimas, injustiças, coitadas, roupas molhadas, umas ternuras

Estou emocionado!
Todo a tremer, sem me poder conter
Vou de romaria e pé descalço, pão e água
Penitência, nada de rir, fecha os olhos, pra não ver

Isto é tudo brincadeira
Tenho um grande respeito pelas mulheres, mesmo Mulheres
Há as outras, porque também há frio e chuvas
E há os cãezinhos e os amores das cadelas puras

Quem vem lá!?
De espada e escudo de lata
Cá está o dom quixote de lá mancha de tanga
Não diz coisa com coisa o pateta

Onde para a minha Dulcineia?
Nasci nesta desgraça, um estigma
Este é o mais parvo poema que escrevi
E vejam, até o chamei de...ENIGMA...

ESTE POEMA É UM EXERTO DE UMA NOVA PEÇA EM PRODUÇÃO

segunda-feira, 7 de julho de 2014

OS MISERÁVEIS


Sempre ouvi a oração do Mar
Este meu pensamento é ave no espaço
As leis do homem são água da areia
Há gente linda, gente feia

Fosse porque fosse nasci assim
Procuro uma palavra na outra face da traição
Há uma explicação que facilita a respiração da maldade
Não quero que me devolvam o firmamento nem a contradição

Minha boca mexe, meu coração para
Numa vertigem ofereci-te uma ilha, nem mais, nem menos
Ao menos que me ames neste poema
Já que comigo não ficarás até entardecer mos

As estrelas não regressam a casa
Mas às vezes em descuido caem do céu
No recuo delicado deste verão
Não quero sentir dor, a tua mão, emoção

Esta porção de sentidos não é para ninguém, ouviram!!!
Há um instante onde tudo é possível dentro do amor
Que nos ata à colina da paixão
Exaltei palavras, mas o ódio é fazedor da dor

Adiei a morte na espera do amor
O Mar acolhe a minha fulgente alma
Este Mar que arroxa esta minha dramática ilha
Esta tempestade que rebenta, destrói, não acalma

Não quero reacender o beijo entre nós
Há um terrível veneno numa boca sem amor, que mente
Não sei se Deus olha para estas coisas
Só sei que o mal não dura eternamente

Já não preciso do amor para resistir à voz do silêncio
Vou enlaçar a ultima palavra verdadeira que te ouvi
Sabes?! Nunca entendeste que as minhas palavras ligam-se ao coração das mãos
Por isso, por tanto, por todo o imenso, não minto, vivo, vivi

Podemos tirar amargura ao tempo
As águas impuras que nos limitam
Podemos encontrar sempre um caminho de volta
Podemos passar por muros altos sem porta

Esta noite já me pesa em minhas mãos rarefeitas
Quebrando a respiração em compreensões insondáveis
Quero apenas aqui afirmar que tudo isto não é para ninguém
Foi apenas um sonho que vivi com...Os Miseráveis...

sábado, 5 de julho de 2014

O DIÁRIO DA MINHA SAUDADE

O

Escureceu a memória nos teus olhos
Como profecia o mal tomou de assalto algumas almas
Há corações que se consomem na ausência
Há sentimentos perdidos na vida de uma hortência

Esta ilha não tem nome de mulher, ou tem?
Antilha a ilha mítica
Onde haviam doceis de ouro
Onde guardo mil lembranças, um tesouro

Sento-me neste banco de pedra
Rezo, desejo, mal digo, prevejo?!
Não! Vou escrever a sangue numa sarça
“O amor não existe, é loucura, é apenas desejo”

De quê?
De passos minúsculos sem tempo, sem rumo?
Que música faz crescer espinhos nos teus gestos?
Entre muros de branco cal, um Sol a prumo...

Um rumo...
Um perfume de santa verdade
Os inaudíveis rumores de falso sentimento
O acaso, um palhaço, uma rosa breve, momento

Há uma lonjura imposta por este coração
Na ilha todas as casas ficam perto da água
Na vida há pessoas que longe ficam, estando perto
Não estão, habitam o incerto

Tangidas de melancolia são as falécias da estupidez
Estarei desperto, sorrindo, ouvindo os dias
Estarei deslumbrado com todas as cálidas auroras
Serei sempre filho de um Mar, terei a irreverência das amoras

Na espuma levitam anjos de água
Há sonhos imensos outros menores numa mão
Dentro de mim reverbera o grito do milhafre
Este Homem tem orvalho no coração

Este Homem emana uma refulgência pura
Como gaivota ouve o sonho a verdade
Este HOMEM lavra todos os dias traços de vida
No...Diário da minha Saudade...

quarta-feira, 2 de julho de 2014

POEMA PARA UM AMANHECER


Quando uma mulher reza
Aí o silêncio é uma flor e chora
Enquanto tudo compõe a solidão
Fica o sorriso de um surdo, o encanto de um mudo

Ficam os passos suaves de uma criança
Ficam os ouvidos apagados
A língua presa à palavra maldita
A desdita dobrada no peito de Mãe aflita

Às vezes um homem bebe do cálice que embebeda o louco
Escorre este amargo absinto pela goela prenhe de secura
Às vezes subimos a colina da cidade desatenta
Às vezes a palavra é afago, outras chicote, crua e dura

Nesta alma persiste a alegria
Serei o primeiro demiurgo da tristeza vencida
Corpo solene ungido com a maresia
E lembro-me como sorrio às vezes, criatura que em Deus confia

Então poeta, isto é que é cuspir metáforas
Hoje quem te ler vai pensar que és o escritor maior
Um intelectual de mão cheia
Não! És apenas o filho pródigo de um deus menor

Podia ser um bom titulo para o poema
“Filho de um deus menor”, mas como pode ser!?
Se tens esta brilhante forma de pintar a saudade
Como pode ser menor alguém a quem tiraram a verdade?

E sigo embalado pelo âmago do universo
Conto as vagas de um mar inventado e são sete
É tão simples esmagar os dias na contradição
É tão estúpido a uma deusa de barro pedir perdão

É tão triste repartir a mesa com a falsidade
Saibam que esta água que circunda a ilha
Está sempre girando nos olhos em desdita
Passei à pouco numa estrada de céu azul, maravilha

Passei e fechei os portões da lembrança
O tempo pediu-me para te conhecer
Não sei bem e nunca saberei quem és
Uma pauta sem notas ou...Poema para um Amanhecer...