quarta-feira, 22 de abril de 2015
O CÉU ESTÁ CHEIO DE ANJOS
Ocultamos as alegrias na memória do que já fomos
Suavemente na sombra obscura, breve e pura
Caminhamos por dentro na viagem do improvável
E acordamos todos os dias no amanhã devagar com o cheiro da loucura
Falamos atormentadas palavras
Para além do alcance de todos os horizontes
E somos pequenos no silêncio absoluto
Bifurcando a alma na procura de sete fontes
Serei pois guerreiro vencido pela utopia
Desmontando a misteriosofia da noite sombria
É tão difícil acordar num vazio tão profundo
Na paisagem mítica dos milhafres aprisionada á maresia
Uma caricia serena de amor separa-nos da solidão
Pobre poeta sem o conhecimento da espera
Com um sorriso disfarçado de inquietude ou revolta
Pobre rimador que te perdeste nos labirintos da paixão em santa guerra
Pobre homem, criminoso apenas por amar
Com a vontade inexplicável de no perdão abraçar
Por maldições o meu corpo é árvore de esperança
Por contradições serei pássaro sem penas para voar
Deixai-me criar lendas, epitáfios e sonhos imensos
Deixai-me construir uma casa entre montanhas e ventanias
Sou poeta, pedaço de pão, fogo, fome, luz, farol para o vale das palavras
Deixai-me construir um ruído mudo de silêncio na estação das calmarias
Uma criança nova exige um nome
Esta ilha, terra fechando-se em volta de tudo
Este esperar pela ferida que a tua lança guarda
Este crescer como quem devora as raias do absurdo
Esta inventada chuva violando o pensamento
Este meu corpo de sombra recolhendo teu corpo de Sol
Esta terra palpitante aos bocados despertos
Este rumo sem Sol a prumo por mares incertos
Meu Deus, Azna, no meio dos risos surgem os punhais
Esta manhã de Sol na minha viagem da solidão ao som de banjos
Olhei para um celeste de esplêndido azul
E vi...UM CÉU CHEIO DE ANJOS
quarta-feira, 15 de abril de 2015
PARA QUE OUÇAS
Teu corpo, rumor de ondas quebrando
Manhãs aprisionadas a tempestades
“Este mistério que é o amor”
Este degredo, esta ilha, sete cidades
Este teu coração de verão
Alma de feiticeira Lua
Brilham constelações nos teus olhos
Morada de uma saudade minha, tua...
Uma onda sem espuma
Árvore, fruto do pecado
Despedaça-me! Submerge a luz deste destino fatal
Uma reza pranteada num chão molhado
Para que sintas, acredites...
As minhas palavras, penas de andorinha do Mar
Promessas, rasto das gaivotas no areal
Vai trepando a dor como hera, por te amar
Antes de ti ninguém povoou esta solidão
Apenas furacões de sonhos aprisionados ao coração
Uma boca de pranto e sangue
Não me abandones, companheira solidão
Lembro-me da viagem por outros Outonos
Em cima de um palco já fiz o amor falar com o ódio
Já encontrei horizontes no meio da encruzilhada
Sei que há sempre um novo dia no encontro de um desencantado
Fala imenso o olhar de um sobrevivente
Ao som dos passos da realidade abandonei a descrença
Terei que provar ao Mundo a minha razão de ser?!
Não dormirei no naufrágio nem nos braços da falsa aliança
Um sonho quebrado trouxe-me ecos de dor
Seguirei os pássaros na rota do Sol
Achei que era possível ser corpo eternamente abraçado
Escutei nas ondas batendo o lamento de um fado
Ergues, morder a palavra, matar o querer
Dar passos em volta da alma, acender uma vela em promessas
Este poema não voará no sentimento vã
Não o deves ler, é apenas...PARA QUE OUÇAS
sábado, 11 de abril de 2015
E DE REPENTE O MAR
Quando aqui cheguei
O vento rondava as tristes janelas
Lembro as noites mais antigas
Lembro luzeiros e olhos, almas amigas
De folheta construí barcos pintados de verde
Foram longe e demoradas as estradas destas vidas
Gosto do silêncio da sombra das chaminés
Apetece subir por aí em ondas perdidas
Ainda tenho sonhos de Navios partindo
Gostava de ver um pássaro falando com Deus
Quando nasce no coração de um homem livre uma sombra
Num caminhante sem o rumo do vir embora
Tenho frio escorrendo das minhas tontas ilusões
Um novo dia vindo ao encontro dos desencantados
Este som mudo batendo a todas as portas fechadas
Esta merda de vida de almas mal amadas
Conheci um lugar onde as mulheres congeminam o feitiço
Gostava de descobrir a luz dos caminhos descansar sobre a terra
Gostava de apagar as luzes atormentadas
Morrer e ir para o sitio das sortes penadas
Não é grande coisa este poema orvalhado
Foi o que saiu deste poeta da longa e feiticeira noite
Hoje foi miserável dia de alguns já mortos
Hoje voltei a ser o rei das poucas sortes
Haja saúde, as gaivotas rumaram para nenhures
A Lua desprendeu-se do céu
Sei lá quem são as porcarias que dizem ser gente boa
Eu até ando certinho e não á toa
É o que dá beber o amargo das palavras infelizes
Hoje é hoje e espero que fuja o amanhã
Espero que ardam os corações falsos e pardos
Que algum dia este meu sentir não seja sentido vã
E acabemos esta tormenta de letras
Foram algumas dezenas de tretas
E porque já lá vai o dia das petas de assombrar
Saí do rumo...E DE REPENTE O MAR
terça-feira, 7 de abril de 2015
PARA LÁ DA PEQUINÊS...
Sonho que sou um cavaleiro andante
Por Mares e noite escura
Paladino do amor, força anelante
Mas, não tenho Palácio da aventura
Talvez nem seja tão louco como Antero
Ou serei?!
Talvez saiba mais dos caminhos da vida
Talvez também me zangue com Deus de quando em vez
Serei algo ou alguém que não admite o insulto
Esta pedra rolada também tem alma
Serei Deus também porque faço parte Dele
E sei que é assim por ser tão intensa esta chama
Pedi aos Arquétipos me iluminassem o coração
Pedi a S. Miguel, Gabriel e Ariel o sorriso dos Anjos
Pedi ao Universo uma estrela como minha
Pedi em sorte uma boa nova que se avizinha
Deixem lá estar as preces deste poeta rezador
Sabem? Há estúpidos que vomitam o amor
Deixem lá estar este escriba de poesias endrominadas
Sabem?! Há sempre veneno nas bocas das mal amadas
E há Milhafres vestidos de carmesim
Há uma esplêndida manhã que espera por mim
E contudo a descrença é licor amargo e triste
Há uma gloriosa história sem ter fim
Comédia de enganos
Filme a preto e branco, fotograma verdade, fotograma mentira
Nesta fita ninguém morre
Neste mar revolto não há quem te acode
Relógio que perdeu o sentido
Ausente das horas, descompassado sentir
São eternamente sete horas e sete esperas
Alma confusa de tontas quimeras
Foi confuso este poema da treta
Foi escrito em português e não genovês
E porque a loucura ás vezes se serve em boca impura e suja
Num fosso... PARA LÁ DA PEQUINÊS...
quinta-feira, 2 de abril de 2015
O MAR DEBAIXO DOS TEUS OLHOS
Tinhas um coração tão quente
A minha voz foi luz suficiente
Corpo solene da esplêndida paixão
Serei no teu amor o primeiro habitante
A minha palavra parece tão inatingível
Amanhã saberei se a vida ainda me quer
Vou procurar raízes nas pedras de uma oração
Em silêncio principalmente te irei ver
São curtos os poentes do Inverno da ilha
São longos os dias senti, sem ti ficam as sombras
Em certos dias a costa é fronteira intransponível
Já só restam deste tempo de solidão as folhas já mortas
Tenho saudade da minha nua rua
Das casas pintadas a cal para afugentar o mal
Das pessoas de sorriso franco á janela
De sentir que antes de um milagre tive sempre um sinal
Hoje vi um Milhafre poisado numa nuvem
Vi um Anjo ajeitar as asas perto de mim
Vi um barco navegar abraçado a uma baleia
Vi o sorriso de uma irónica Lua cheia
As coisas que um louco vê
Também vi a tranquilidade de uma montanha azul
Um Céu com a Cassiopeia a dançar com a Ursa Maior
Vi também um Homem Pássaro a perguntar pela estrela do sul
As coisas que um Poeta escreve
Descalço a saltitar na lava arrefecida
Sem Ti, sem o teu amor
Sou uma insignificante alma perdida
Este é o tempo dos sonhos coloridos
Estonteante e contaminador é este querer
Desenhei palavras para te dizer baixinho num céu crepuscular
Onde te encontrarei para te provar o amar
Nesta longa e demorada estrada
Fui colhendo esperanças aos molhos
Adormeci numa praia de terna areia
Com o Mar debaixo dos teus olhos...
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