sexta-feira, 29 de maio de 2015

AS LUZES DO ENTRISTECER


Não me perguntem porque amo o silêncio
Não me perguntem porque habitas na minha ternura
Apenas porque sou uma ilha perdida numa concha
Enquanto meu corpo se perde no cheiro da maresia

Trago comigo as dores que viram as minhas mãos crescerem
Ás vezes penso ser estrangeiro perdido no meu corpo
Peço aos deuses que sejam, candeia iluminando as minhas preces
Ás vezes navego num mar sem sal, já morto

Porque me perdi num regaço antigo de ilusão?
Algures sorrio no meio do meu cansaço
“Há sempre em mim um choro que se ouve quando fecho os olhos”
Quando amo uma flor, a mulher, na saudade estremeço

Se vocês soubessem o que habita na minha ternura!?
Aí veriam quando um homem ganha importância
Se vocês soubessem como sei amar com amor?!
Aí veriam que não há longes nem distâncias

Meu Deus, por estes dias falamos tanto
Imperturbável, deixas que siga o meu destino
Ninguém saberá que sou pássaro, morro e o meu corpo é terra
Talvez uma perdida pedra em esquecido caminho

Nunca consegui partir a verdade em duas
Nunca aprisionei a luz de uma estrela
Nunca consegui fundir a razão com a ilusão
Nunca deixei de sorrir ao ódio com este pobre coração

Murmuro palavras vagarosas, compondo a solidão
Gostava de ser a luz de um cego, a música de um surdo
Gostava de oferecer todas a minhas palavras
A um coração que nasceu mudo

O curioso é esta minha alma persistente de alegria
Este alento animado por um desconhecido Universo
E aceno distraído ao desprender dos anjos amigos
E construo a palavra no movimento de cada vaga, em verso

Não gosto da cor do Mar sem o sorriso do céu
Onde cabe um poema para te sentir e ver?
Talvez nas planícies eternas da saudade
Numa réstea de... LUZES DO ENTRISTECER

sexta-feira, 22 de maio de 2015

PALAVRAS CORREM MUDAS


Podias ser apenas uma pintura
Podias ser apenas uma concha perdida na areia
Podias ser um fugaz olhar que se esvai
Apenas uma imagem nas águas da Lagoa em noite de Lua cheia

Podias...
Ser orvalho vestindo os frutos na manhã
Uma gaivota poisada entre o Mar e a terra
A brancura dos sentires varrendo a saudade em santa guerra

Contemplei na manhã Anjos de água
Sentados sorridentes num arco- íris
Acenaram-me na essência que deslumbra
Dei por mim perdido entre a paixão e a sombra

Ás vezes o sonho é mais do que a palavra
A existência de Ti é inquietação matinal
Infindáveis agitações percorrem este peito
Em fragores de azul descortino o teu rosto inquieto

Não posso tocar-te a mão
Cheguei tarde ao sitio onde repousam as andorinhas
Com o Luar preso aos teus olhos fica cego o amor
Por isso bebo a saudade fria de uma pálida flor

Cintilante espuma!
Apetece subir por aí em ondas de alegria
Ao som dos passos da irrealidade sem bater em portas
E dizer: quando há amor, há mesmo amor, confia

Escutei no teu cabelo todas as ondas de um Oceano
Vi peixes beijando-se em camas de espuma
Em espelhos de água refletidos todos os momentos de paixão
E um golfinho entregando-me o teu coração

Triste ilusão...!
Apetece-me pedir-te vem!
Trás o perfume das outras eras
E liberta-me das mil esperas

Lembra-me os Outonos e Invernos a saber a pão
E, sorri no silêncio possível do reencontro das madrugadas
Mas vem, anjo das transparências nas asas do vento
E assim as...PALAVRAS CORREM MUDAS...

sexta-feira, 15 de maio de 2015

QUANDO NOS SEPARAMOS DO DIVINO


Falam-me de um tempo, choro
Lembro-me que afinal estou só
Percorrendo um caminho infinito, árido
Rodando como atafona em pedra mó

Ás vezes prendo os olhos aos bolsos
Contando tostões de sonhos ao desbarato
E mijo-me a rir das histórias felizes
Não tenho cinturão com balas nem com a vida contrato

Mordo com os dentes uma maçã já murcha
Vou-me entesando com uma raiva deliciosa
E louco de excitação faço cocegas ao pensamento
Ao ouvir uma frase de senhora extremosa

Mas espera aí!
Para onde viaja hoje este poeta?!
Estava apenas a divagar no lado mais escuro da Lua
Por momentos perdi-me numa rua fria e nua

Mas, faça-se luz “fia lux”
“Eu apenas não morro na dor sem encontrar o amor”
Enquanto não encontrar a minha cidade inventada
Enquanto não despir esta capa de gente mal amada

E aguardarei as aves da Primavera
Aqui numa corisca e bela Ilha
Falhei adoração ao Senhor
“E parei por momentos no coração o bater do amor”

Meu Deus, quem sou?
Um barco de madeira, carcomido, amaldiçoado?
Viajando com calados sonhos
Submersos num lago profundo?

Não! Serei apenas um caçador de pérolas
Fugindo a sereias e ninfas silenciosas, perdidas no tempo
Plantando palmeiras na areia
Soltando aves no céu na maré cheia

Cheguei tão devagar a esta terra verde
Após longos sóis abraçado a um destino
É assim ás vezes na vida
Quando por momentos NOS SEPARAMOS DO DIVINO...

sexta-feira, 8 de maio de 2015

ENCONTRO COM O DESTINO


Não tenho muito lugar em ti
Ai se visse nascer das hortênsias rosas novas
Se te sentisse na pele deslizante de uma rapariga madura
Se me ardesse o coração como casa de palha e verdura

Ofereço-te um prato tiritante de beijos
Um molho de abraços inquietos
Um lugar na minha palavra por dizer
Um altar de espuma do Mar para te poder ver

Escrever o poema é soltar o grito
É dormir com anjos transparentes
É sonhar novos horizontes azuis
É encher-te a alma de presentes

Uma ilha aparecida no Mar é pequena flor oceânica
Este pensamento de barro cru por pintar
“ Uma mulher imensa dentro de um homem nunca se apaga”
Digo-te como se fosse uma criança sem revolta, o amor é apenas amar

É no estio que o coração solta a palavra
Parei na imensidão das horas possíveis
Há uma felicidade irreconhecível sem morada
Há corações sem janelas, com a porta fechada

Lavrei compreensão na imensidão do egoísmo
Erigi um lugar para elevar a concórdia
Sei o significado do querer partir
Pintarei montanhas fora do alcance para te fazer sentir

Na minha peregrinação através do tempo
Partindo não importando donde
Semeei palavras puras de transparência e brandura
Fui rico na pobreza e pobre na fartura

Enterrados na terra do esquecimento
Estarão as recordações da tua incompreensão
São grãos de poeira perdidos da alma
São vida que se extinguiu da chama

É tão mau sermos sempre os mesmos
Não há nada que mereça a noite, nem o querer pequenino
Não se pode vomitar um vazio indescritível
No...Encontro Com o Destino...

sexta-feira, 1 de maio de 2015

CORRENTES DE UMA PAIXÃO


Este dia acordou feio e sombrio
Como um tostão de gente, correu frio e húmido
Este vento é grave e sabe a descontentamento
A água afoga a terra, esta bruma parada num momento

Gostava de ir ter contigo num País encantado
Sem casas, nem lagos, com flores e dizer, meu amor
Ás vezes corro nu, agasalhado pelo sonho
Gostava de viver na aurora da paz, sem rancor, sem dor

Estas palavras beijando o papel branco
Há sempre luz para o inicio dos gestos
Liberta-mos sonhos e comemos distâncias
Dá-mos braços á ternura e aprisionamos as ansias

Sou como uma criança de mãos vivas cheirando a vida
Deixem-me aqui cuidando com os olhos da irreverência dos pássaros
Deixem-me aqui envolto neste grito de saudade e nostalgia
Que seja a ultima vez que abro esta boca amputada no adeus do dia

Os sonhos não têm cor
Os homens não têm asas
As auroras escondem as estrelas
As mulheres não sabem amar, só são amadas...

Sobem-me abismos á alma
Nesta floresta de palavras cravo um punhal
Ontem por ontem na angustia pedi que me abandonasse o mal
Dos céus desceu um terrível e duro sinal

Pintei uma mulher fresca para servir a noite e toldar o sonho
A tela saiu uma desgraça de paranoicas cores
Uma rosa, uma mão no peito com um cravo cravado
É assim uma comédia de desenganos de falsos amores

Não encontro um lugar na palavra para o confiar
Neste poema duro e rude calei o coração
Fiz-me ao Mar neste denso e húmido nevoeiro
E lancei a âncora nas...CORRENTES DE UMA PAIXÃO...