sexta-feira, 25 de março de 2016

COMO CHEGASTE À MINHA ALMA


Tu apareceste, a noite encheu-se
Plena mulher, lua ardente
Percorro o teu pequeno infinito
Nesta viagem de coração sedento

Vivi numa guerra de palavras
Senti a dor no rasgar de todas as madrugadas
Cantei canções de estranha melodia
Transformei raivas em esperanças

Levo o querer à voz cansada
Numa carícia sem sede
Vou pensando no céu e no mar sem Deus
Vou tremendo escrever o poema depois

E escrevo para ti
Na fronteira perdida da noite
Invento golfinhos de chapéu de coco sorridentes
Gaivotas azuis invisíveis

Com os olhos presos ao sonho
Os tumultos e a dor não estão comigo
Este meu espírito alucinado sugere-me
Que és pássaro, terra, lava ardente

No centro do meu sentir
Beberei o mar
Alimentarei a tempestade
Voarei para te amar

Vou rasgar velas
Abrir à luz todas as janelas
Vou ser aprendiz de feiticeiro
Fazer-te um doce sortilégio

Vou esmagar estes dias insulares
Encher a mesa de pão e vinho
Vou rezar ao ouvido de Deus
Para que te ponha no meu caminho

Sabes?!
Tudo o que se move e pode sentir
Às vezes acende no peito uma rubra chama
Tal...COMO CHEGASTE À MINHA ALMA...

sexta-feira, 18 de março de 2016

ONDE SE ACONCHEGAM AS MARESIAS


Despontou a manhã
Escuto nos teus cabelos as ondas do mar
Fui abraçado por Deus
Senti Sua Mão, senti-me divindade, despertei o amar

Sim, é possível
Escutar as ondas a bater no teu coração
Onde houver uma pedra
Pintarei uma árvore, uma emoção

Sabes?!
Inventei uma metáfora
Uma forma de na verdade me encontrares:
“Ser é existir apenas em amar-te e em tu me amares”

Vesti um fato de pássaro
Mordi o tempo inesperado
Debaixo de um sol de sangue
Apaguei a luz clara do pecado

Lavrei sonhos, enganei o tempo
Apanhei diamantes ao alvorecer
E como se uma estranha alucinação me ensombrasse
Hipnotizei as palavras de um breve história só para te ver

Fosse porque fosse
Senti-te sempre tão além
Na voraz caminhada da lua e do sol
Quis ser sempre tanto, alguém

No vazio de um punho cerrado
Um grão de areia
Sei, que uma destas manhãs
Uma luz se vai acender nesta alma linda

Por maldição
Meu corpo é, fogo, fome, sinfonia
Por contradição
É atraído para o teu em sublime paixão

E grito uma muda oração
Mergulho nas palavras mudas que me envias
Este ser que caminha nas pedras da ilha
...ONDE SE ACONCHEGAM AS MARESIAS

sexta-feira, 11 de março de 2016

ANJO DE ÁGUA


- Onde vais? – perguntou a minha alma
sozinha num canto
- Vou onde me apetecer – disse o meu coração teimoso
- Tenho paixões para gastar, encontrar quem saiba amar

Noutros tempos diria:
Há sempre luz no início do gesto
Avançando nas valas frágeis
Após uma luta rápida com um doloroso momento

Enquanto o pensamento comia todas as distâncias
E Deus dava os braços à luz do dia
Inventei lutas, dourei sentimentos
Plantei filhos, cortei árvores, engoli a nostalgia

Deixem-me aqui...
Com presépios nos dedos
Deixem-me aqui sereno e pleno
Com dores, sem medos

Ouçam comigo esta voz da verde ilha
Este grito de ave que vem de dentro de mim
Como se fosse a última vez
Não impeçam esta correria louca de razão pouca

Deixem-me, aqui sonhar, só
Neste lago de água mansas e flores eternas
Compondo esta solidão, este silêncio, mil vezes silêncio
Na espera de um rosto, inventando o poema

Quero ir, para longe da minha distância
Comigo dentro de mim
Com uma grossa algema de palavras nos braços
Quero sentir que amar só tem principio, nunca fim

Já chorei numa muda sinfonia
Já senti que por amor morria
Já me vesti de nostalgia
Já mordi pedras e rezei ao fim do dia

Serão os nomes apenas diagramas de esperança
Saio dentro de mim e piso os falsos beijos
Nos gemidos dos sonho, pensando novas metáforas
Bato a todas as portas com a poesia nos olhos

Tudo isto, todas estas palavras
Apenas porque no céu deste dia pardacento
Vi uma forma nas nuvens que me afugentou a mágoa
Não sei se eras tu, ou um... ANJO DE ÁGUA...

sexta-feira, 4 de março de 2016

FLOR ETERNA


Montei um choro e uma dor
Como uma peça de teatro
Lambi a emoção e engoli a tristeza num trago
Tenho de aprender a não me morder, perder

As palavras são mãos voando
O abraço sincero preso ao coração intato
Soerguendo-se dentro de mim
Um querer imenso, infinito

Levanto-me
Com o vento, as vozes, as cores
Imaginando o intemporal
Sem estátuas, casas, cidades

A minha viagem
Nunca será aventura do homem comum
Este vento incansável, corpo despojado de vestes
Este Deus cansado das minhas preces

Desencontrei-me entre os homens
Sentei-me numa pedra do mar
Falei comigo próprio como fazem os loucos
E pensei: “ser verdadeira loucura, tão perdidamente te amar”

Não há lugar para a reinvenção das sombras
Tudo seria mais simples no dardejar das ânsias
Se virasses as costas ao tempo
Se o teu coração se inundasse em deslumbramento

Os amores loucos
São feitos de pequenos nadas
Um encontro casual
A vertigem, um poema escrito em tinta e pena

Quisera poder
Fazer o tempo desaparecer na minha mão
Reacender esta chama que brilha devagar
Oferecer-te o ramo de orquídeas misteriosas da minha solidão

Queria-te no sitio
Onde se aconchegam maresias aos mantos de hortênsias
Celebro-te com amor e sem dor ou pena
Porque na minha alma és...Flor Eterna...