quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

O FEITICEIRO DE OZ


O espaço provável do voo de uma gaivota
O peso da idade inadiável
O lembrar do Sol em cada grito
O crescer como quem devora um destino de aflito

Estas mãos metidas no papel
Vasculhando na sombra a dor da rosa
A vos que devasta a canção do mudo
Abortando em cada manha raivosa

Os sapatos num canto
Os presentes de outono
O segredo das águas de Abril
O contar dos sonhos, são mil

O carnaval dos tolos
Um palhaço que não ri
Um poeta mais vivo que morto
Com uma imensa saudade de ti

Um arlequim sem Columbina
Um archote de fogo brando
Uma dama duvidosa piscando o olho
O gesto obsceno de um malandro

Sabes...?!
Já fui palhaço sem rubro nariz
Já escapei da morte por um triz
Já fui criança e gente feliz

Sabes...?
Já fui santo e pecador
Já misturei a verdade com a dor
Já fiz coisas boas, já fui ator...

...Carteirista, arrivista, salteador
Fui golfinho, rei de um país sem gente
Até já fui um pobre pedinte de amor
Até com um sorriso teu fiquei contente

Sou o que sou!
Já fui o ultimo num desafio derradeiro
Já mergulhei onde o mar despeja a sua ira
Vejam bem, até já fui um ...OZ DE FEITICEIRO...

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

NÃO É FÁCIL PERDER-ME DE TI


Habitei o sitio onde o grito se enrola nas lágrimas
Vou abandonar este inverno de dor
A caminho do verão ouvindo o mar
Vou, quero ir a lugar nenhum, não quero ficar

Inexplicáveis desertos
Golfinhos morrendo de tristeza
Gaivotas famintas
Viver sem certeza

Uma mentira cai contra a parede do mundo
Uma sereia decide deixar o mar profundo
A sombra de uma vida tombada
Nos pátios da solidão, perdi o coração

Não...!
Foi arrancado por cruel mão
Esbracejo vencido sobre olvidadas folhas sem tinta
Como raízes de uma árvore extinta

Apetece rebentar na cabeça o silêncio
Fugir de mim numa viagem sem fim
Ir ver a maneira como morre o sol
Morrer, perder-me de mim

A noite aproxima-se hesitante
Há sempre em cada esquina, numa porta por fechar
Dentro da sombra
Um punhado de amor esperando o despertar

Recolho na hipnose dos sons
O meu sangue perdido entre dois mundos
Sonhos moribundos
Sou apenas o rei dos vagabundos

Um suspiro definitivo
A palavra que se recolhe amarga
Sou o vencido, não espero o abraço
Exigindo um nome, perdoando a demora

Uma criança que chora
Um poeta que já não sorri
Sabes?! Mesmo que eu queira partir
...NÃO É FÁCIL PERDER-ME DE TI

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017

UM TRAGO DE AMOR


Nos degraus da vida
Sentas-te na cadeira do mar
Numa fátua convivência com os anjos
Soletrando o verbo amar

Corres cortinas
Recolhes o sol ao regaço
Com os pés descalços sobre instantes
Com a dança feliz de apenas um passo

Podia ser apenas uma fotografia
Uma pintura de Renoir
Sobre as rosas do silêncio
Na virgindade das folhas, num pensamento

Esta ilha esteve sempre perto do mar
Este mar esteve sempre tão preso a mim
Esta grande e impenetrável noite
Um sorriso de luar sem fim

Sussurro-te:
Quero-te assim
Levanto a água dos teus cabelos
Com as nuvens faço novelos

Estou de regresso de infindáveis agitações
Os lugares imanavam outra existência
Onde algures água pode chegar
Tento ao ritmo do teu sonhar

No teu coração desenhei o limite das montanhas
O saborear a terra de flores frescas
O recolher a sombra do teu corpo de Sol
O tingir dos sons das divinas festas


Não há nenhum barco pronto a partir
Na solidão do crepúsculo da voz aflita
Verticalmente duradouro
Nos olhos cerrados da manhã infinita

No balanço do pensamento
Na noite respingou um suspiro de dor
Ergui este cálice de mágico absinto
Bebi a esperança...NUM TRAGO DE AMOR...

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

UM SONHO MAIOR QUE AS PALAVRAS


Estas mãos prenderam-se ao teu perfume
Estas emoções partiram-me o coração
Estas quatro estações sem luz
Esta pedra na tua voz que me seduz

Uma revoada de nuvens brancas
Uma revoada de pássaros
Um mar com ondas de gaivotas
Um vale de esperanças já mortas

Um torpor da terra em teu coração
Um cheiro de solidão
O voar de uma canção
O amarrar a respiração

Uma mulher vestida de neve
As pedras solares de longínquos pátios
Uma espera vestida de quimera
O gesto no fogo, suaves murmúrios

Se falasse de ti diria:
És um céu de utopias
As inalcançáveis estrelas
Um canteiro de frescas margaridas

De mim não falarei
Estou perdido na mudez da neblina
Nas pegadas das aves do mar
Nas penas de um anjo de água

Este duro ar da saudade
Esta inútil verdade
Estas penas que ardem quietas
Esta silenciosa cidade

Cortam o carinho
As mãos urgentes do pecado
Uma alegria arde com as sombras
A triste música das pedras se erguendo

Um condenado, um tolo chapado
Uma alma transbordando as magoas
Já perdoei quem me feriu a alma
Ficou... UM SONHO MAIOR QUE AS PALAVRAS...