terça-feira, 30 de maio de 2017

ENSEADA DE PALAVRAS


Ouvirei passos de vento
Virão ao meu encontro gaivotas azuis
Trago no peito uma hortênsia fresca de junho
Trago na mão uma verdade que empunho

Quando as aves cantam ao entardecer
Fico-me pela ramagem da nostalgia
Sinto os prodígios da música feliz
Este homem, este poeta, este petiz

Correm nas horas palavras como amoras
Um rosto atravessa isolados prados na vida
Deixei de plantar carinho, quando não me querem
Fechei a ternura numa caixinha devolvida

Quem és!?
Para onde correm os teus anseios?
Os meus olhos apenas recolhem cânticos de silêncio
Já não navego na Baia de todos os medos

Uma pequena pedra, a sorte...?!
A fé que me guia e me dá norte
Pedra na voz de uma menina
Não há melancolia, recomeçarei, não há morte!

Nos bolsos de um espantalho encontrei
Um papel que dizia assim:
“Nesta ilha descobri teus olhos
No acreditar voltarás para mim”

Se falassem estas mãos diriam
Ouve a voz imensa da terra
Que nunca morra a saudade
Que se instaure uma real verdade

São brancos os meus sentires
É alva a minha dorida alma
Que ninguém me trate mais como: “és mesmo assim”
Que se fechem os impuros corações que se lembram de mim

Eu já existia na ausência do teu nome
Sou um menino sem revolta ou mágoas
Nestas ultimas e felizes horas
Habitei numa...Enseada de Palavras...

sexta-feira, 26 de maio de 2017

TEMPLO SE SILENCIO

Um fogo brando, um céu que hás vezes é azul, outras negro como os pássaros de infeliz pena. A força da minha voz nunca se ouvirá para além deste rochedo. As valas e grotas nunca se fecharam para me deixarem passar. Por gaivotas, por maldições aqui o Mar rouba o som do bater dos corações e o corpo é apenas haste ou ramo de loureiro poupado ao vento e ao tempo, na sorte e misericórdia de Deus, se existe?! Às vezes penso que somos apenas pó e água moldados por mão perversa implorando um pedaço de pão, o fogo, a fome caminhando na palidez dos dias. Aramos a terra com as unhas em sangue, como quem arranca o trigo ceifando raivas. Como barcos náufragas. Soçobramos ao anoitecer, criamos epitáfios de dor, ao calor da fogueira contamos mil vezes a mesma lenda. Quando a tarde vem o medo da noite enche-nos de arrepios, de repugnância pela solidão que nos ocupa por dentro de um vazio triste. Olhos manietados junto às sombras indecifráveis passeando pelas paredes de pedra nua enquanto ventos estranhos rebentam com as memórias do que somos, com a fé, com as esperanças aprisionadas a esta frágil existência. Meu Deus, Deixai-me com meus filhos vagar pelas montanhas, pela lã das ovelhas, pela ventania “ “Deixai-me no meu grito, construir um Templo de Silêncio”

sexta-feira, 19 de maio de 2017

A DOR DE UMA RENUNCIA


Na solidão do crepúsculo
Verticalmente duradouro
A despedaçada boa vontade de amar por amar
O balanço do pensamento
O tempo certo do feliz momento
Uma palavra que se recolhe amarga
No cerne imperceptível duma canção
Porque estando em si ri-se o homem mais infeliz
Na chama das palavras tudo se pode sentir
Num cais de esperas também se pode partir
A sorrir num chorar dolente
O sol sorri na ilha
Se fosse inverno
Se alguém reclamasse um sussurro
No vazio da voz imensa
Uma criança quando chora não pensa
Por tudo isso
Sinto nos poros um calor mais suave
Não espero cartas de fora
Voarei no voo da gaivota
Devorando todos os beijos possíveis
Risco o mundo
Deixando as esperanças à tua porta...


segunda-feira, 8 de maio de 2017

CONTEMPLAÇÃO


Corri, caminhei, orei, chorei
Senti o vento brincar no mar
Vi pássaros a cantar
Vi gaivotas descansando o voar
Não tenho Mãe para oferecer uma flor
Sei que lá do alto nunca me falta em amor
Protegem-se as pedras e a saudade
Nesta vida...
Plantei flores, nasceram limões
Há palavras ditas singelas sem contradições
Quando se diz a palavra amo-te às vezes unem-se corações
Nestes dias, faltou-me sempre a bondade
O cuidado que me fazia feliz
Nestes dias de raiva, maldade e esperança
Nestes dias subo para uma folha e papel
Para tentar ungir palavras de confiança
Pintor, navegador de Mares coloridos
Passos perdidos
Perdi anos, risos, abraços e até o amor
Perdi alegria, ganhei alentos e voei em sete ventos
E quando achei que já sabia e tinha tudo
Descobri que ser feliz só é possível em breves momentos...
E porque este é o tempo das flores
O tempo dos namorados patetas
Deu –me para pintar uma tela “UMA OFICINA DE BONECAS”