sexta-feira, 29 de setembro de 2017

MORDER O CORAÇÃO


Encontrei o inverno, senti o sabor da chuva
Calcei luvas brancas, toquei um anjo de transparências
Olhei para uma pétala de rosa sem destino
E como se o mundo estivesse acabando
Acalmei o choro de um triste menino
Senti meu coração inquieto como a espuma do mar
Falei-lhe de fadas, castelos, de rios mansos
Dobrei uma folha e fiz um papagaio de papel
Abriu os olhos, sorriu
Uma brisa suave passou por ali
O papagaio subiu...
E de repente a paisagem encheu-se de cores
Despertaram na ilha todas as flores
As baleias cantaram no mar
Deus anunciou o seu chegar
Vieram primeiro os anjos perseguindo o brilho do amanhecer
Tal como pássaros inesperados nas manhãs claras
As portas abriram-se nas casas forçadas pelo vento inquieto das almas
Fosse porque fosse num de repente
Estendi a mão
Escreveram a palavra paixão na palma da minha mão
Acordei deste sonho confuso
Quando...senti Morder o Coração





sexta-feira, 22 de setembro de 2017

GNOTHI SEAUTON “Conhece-te a ti mesmo”



Visitei um oráculo para ver o meu destino
Entrei no templo de Apolo em Delfos
Não sei o que me deu, perguntar quem sou eu
Nem um amigo nem uma voz pousaram
Nem grito inventado na madrugada
Um mão cheia de nada, fechada
Entre tantos sorrisos perdi-me
Num poço de silêncio forçado
Fechei os olhos e inventei imagens
Moldei uma ilha em ti
De verdes em constantes metamorfoses
Podia ter um nome, uma etiqueta
Podia guardar esta maravilha nas mãos
Pensando numa palavra ou em Deus
Comungando noticia felizes
De homens tributando o mar
Mas, que importa tudo isso?
Seremos sempre os mesmos
Com a boca cheia de termos gastos
Já estamos gastos da ilusão
Amamos pedras em formato de coração
Por tudo isso:
Dança na madrugada
Solta o canto da boca calada
Olha para as vestes que trazes
Não acredites no espelho
“Conhece-te a ti mesmo”

sexta-feira, 15 de setembro de 2017

O SILENCIO QUE HÁ EM MIM


Com palavras de bruma percorro a dor escondida
Escondendo as mãos frias
O movimento inquieto dos olhos gastos
O voo livre de um pássaro em Setembro
É um segredo simples
Tal como te amar...
Nunca desmontei a misteriosofia do anoitecer
Nunca entendi certos corações cegos de sem olhos ver
E na madrugada extensa do entendimento da paixão
Senti-te como caricia serena que me separa da solidão
No abraço, a entrega dos sentidos
O beijo percorrendo o teu corpo ilha
O fogo...
Esta vontade inexplicável de continuar aqui
O partir...
Uma chegada de ausente madrugada
Um tonto, vestido de palhaço
Um poeta sem asas perdido no espaço
Entre palavras e pensamentos
Na consciência do silêncio
Viajo á dimensão informe e intemporal
Aprendo a linguagem de Deus
E no murmúrio das árvores descubro o silencio que há em mim...

quinta-feira, 7 de setembro de 2017

A INSUSTENTAVEL LEVEZA DE TE QUERER


Conduzo um sonho
Ergo-me
Subo ao mundo
Ninguém pode mudar o que sinto
Na certeza de te querer não minto
No cheiro do descontente inverno
Ventos de contradição e segredos
Fustigam meu coração com espadas de chuva
Ás vezes é melhor matar a fala
No dizer quase nada
Talvez tenha vivido no teu mundo
Nunca viveste no meu
Talvez seja um Arcanjo perdido numa ilha
Talvez seja apenas um louco ateu
Talvez...
Seja o pranto da noite
O sibilar dos corpos
As mãos se procurando
Na preparação do carinho
O amor, o aroma de um ninho
Talvez...
De te tocar, surja o sangue
Rasgando a transparência das unhas
Numa derrotada madrugada
Uma mulher de boca molhada
Indicando o barulho do mar
No silencio do amor por fazer
A insustentável leveza de te querer...