quinta-feira, 2 de novembro de 2017

A CONSTRUÇÃO DE UM SILÊNCIO


Há quem me largue socos quando apenas quero viver,
pela revolta da pedra,
há também quem me sorria num sorriso louco,
com a maldade tatuada no coração.
Estes ventos que correm húmidos pelos corredoras da ilha,
um céu aberto pelos vales da carne...
a dor por apagar nos leitos maravilhosos,
parada na imensidão das horas,
esta criança num corpo grande que silenciosamente chora,
alma presa á terra,
este querer que agora quer partir, preso entre o chegar e ir embora.
A construção e um silêncio na palavra feroz,
a vontade nas mãos do algoz, peixes azuis,
andorinhas do mar, quatro pedras para o corpo aconchegar,
uma apenas para o coração parar, para a vida deixar de medrar.
Sacudo o pranto, afasto o desencanto,
quebro o quebranto, sou o rei dos mendigos,
sou madrugada sem brilho, sou um pagador do pecado,
a esperança de um filho, um tudo preso ao quase nada...

3 comentários:

LuísM Castanheira disse...

contraponto:
porque o poema pertuba
e a alma sente
porque o dia é único
e outro igual não haverá
porque a vida é vivida no momento
sem se saber as reservas que ela contém
porque sim
porque amanhã tudo poderá ser diferente
e quem hoje nada tem
tem uma única certeza:
a riqueza está nessa vida, sem transmissão, sem outra razão que não a razão de existir.

"🌷... bom dia...!

interiores

chove na manhã de todos os silêncios
iluminada pela bruma que penetra
a janela
a casa é um santuário no recolhimento temporário
o cão presente olha para mim
sentado, à espera da habitual refeição
mas é ainda tão cedo
e, não fora ele, a realidade escapava-se da minha mão
assim, o dia acordou
os pássaros voam e chilram
as goteiras dos beirais e varandas
produzem a música
e o isolamento acabou.
ah! guardei o beijo matinal
recebido
habitual
com que o dia começa
sempre diferente
sempre igual.
LuísM Castanheira"

um abraço

Célia disse...

..."esta criança num corpo grande que silenciosamente chora,
alma presa á terra,
este querer que agora quer partir, preso entre o chegar e ir embora"...

Lembranças de um ontem que se apodera de um hoje eternizando momentos... Tocante poema de vida!
Abraço.

luar perdido disse...

Enquanto construíres silêncios, Poeta, não vais libertar a asa presa da gaivota que anseia por voar. Não vais libertar as amarras do velho batel, que definha no porto, sonhando com o embate das ondas vestidas de espuma. Não vais libertar a música das palavras que compõem cada poema trancado no coração...

Silêncios são grilhões na alma, algemas no coração e peias no olhar.... Não construas silêncios, profeta, constrói vida, fogo, calor, constrói ALMA VIVA.

Beijo de luar